Friday, August 07, 2009

Doença de criança

Com quase 30 anos na cara tive um ataque de bobeira e peguei uma doença de criança. Como aconteceu nos meus 18 anos, quando peguei rubéola, com 28 resolvi pegar caxumba. (Pelas minhas contas com 38 pegarei sarampo)

O negócio começou muito discreto e parecia ser uma infecção de ouvido, garganta ou coisa parecida. Pois é, não era.

Dia 1:
Uma bolinha atrás da orelha que não doía quase nada. Nem dei muita bola pra ela.

Dia 2:
A bolinha virou uma bolota que doía um pouco. Quando vi que o inchaço tava afetando uma das coisas que mais gosto de fazer, mastigar, resolvi marcar um médico.

Cheguei lá e ele examinou a garganta, o ouvido a boca e deu o diagnóstico. Caxumbinha.

Soltei um “Você ta me zuando?!”, mas não sensibilizei o médico, que me deu um remédio para o caso de sentir dor, recomendou vitamina C, comidas pastosas, muito líquido e cama durante uma semana.

Quando cheguei e dei a notícia trágica os três homens da casa mantiveram a distância e os cuidados com a pessoa enferma ficou a cargo de mamis.

Como nada doía resolvi que não ia comprar o tal remédio, mas minha santa mãezinha achou melhor eu comprar. Just in case.

Para a minha sorte, estava com o remédio bem do meu lado quando, as 22:35, achei que ia morrer de dor. Meu rosto ficou quente, meu ouvido parecia que ia explodir e meu maxilar parecia que só ia parar de doer se eu arrancasse ele fora. Chorar estava fora de questão, já que isso fazia tudo doer ainda mais. Tomei o remédio e tentei meditar por uns minutos pra ver se passava. Alguns eternos minutos e a dor ficou suportável e foi passando.

Um pouco depois da crise, mamis aparece pra dar aquela checada noturna e traz um chazinho de criança de erva doce (nada mais condizente com a situação da pessoa) na caneca do Palestra (não mencionei que a doença começou no dia que o Palestra ganhou de 3 a 0 do Curintia).

Dia 3:
Acordei com o pescoço mais inchado, mas não estava doendo. Fui procurar algo para comer, mas a casa ainda não estava preparada para uma pessoa enferma que não pode mastigar. Achei meio mamão e um iogurte.

Mais tarde comi purê de batatas e tentei mastigar um pouco de carne moída. Parece que deu certo, mesmo com um pouco de dor.

De noite sopa. Não sou uma fã de sopas e sinceramente não sabia se podia aguentar uma semana comendo só aquilo.

De madrugada só dores tolerantes, nem precisei tomar o remédio.

Dia 4:
A bolota ainda está lá e lateja como nunca antes. A dor é suportável, por isso nada de remédio para mim.

Detesto tomar remédio e se dá pra suportar prefiro passar sem.

No almoço arrisco de novo uma carne moída e purê de mandioquinha com cenoura. O purê é mais fácil de engolir, já que a cada mastigada os pedaços de carne moída parecem mais pedacinhos de concreto. Tudo dói na hora do almoço.

De tarde a solidão toma conta do meu ser. É difícil para uma pessoa que fala pouco assim que nem eu ficar o dia todo sem falar com ninguém. Agradeço ao senhor pelo MSN, Twitter, e-mail e também pelo telefone, onde recebo ligações diárias das minhas avós e da minha tia, aquela que acaba de perder o cachorro.

De noite, depois da sopa, fico com raiva. Meus irmãos queridos, que conversam comigo com uma distância de 2 metros, vão ao estádio ver o jogo do Palestra e me deixam em casa vendo o jogo pela televisão. Descobri como é horrível ver o jogo sem poder gritar e mudei de canal. Só vi o resultado no dia seguinte. Palestra 1X0 em cima do Flu.

Dia 5:
O negócio dá os primeiros sinais que vai desinchar, mas ainda lateja. Ao invés da dor sinto enjoo, ânsia e todas aquelas coisas agradáveis de quem está com o estômago embrulhado.

No almoço consigo encarar um macarrão, mas não muito porque logo começa a doer. O Ciello ganha o ouro, eu comemoro e descubro que ainda não estou tão boa quanto parecia. Descubro que o Ronalducho fez lipo e não consigo rir muito porque dói. Decido que quando ficar boa vou rir muito disso.

Dia 6:
Mais um dia internada sob os cobertores assistindo televisão. Assisti os jornais da hora do almoço, a novela da tarde, mas me recusei a assistir a sessão da tarde.

De tão entediada fui virando os canais até cair no Animal Planet. Estava passando Tubarão, que por um acaso do destino nunca tinha visto. Descobri que apesar do tubarão ser meio desproporcional, um tanto cabeçudo, o filme é mesmo muito bom e o Steven Spielberg realmente é foda.

À noite consegui o inimaginável. Comi 2 pedaços inteiros de pizza.

Dia 7:
Quase não se vê as bochechas de Quico. Só de pensar que vou ter que ficar sem sair de casa mais um dia fico deprimida. A família colabora com a doença da pessoa e fica em casa.

À tarde termino o livro “Clube do Filme”. Livro legal, bonita a relação pai e filho. Os comentários sobre os filmes fazem você ficar com vontade de ir até a locadora mais próxima alugar quase todos eles, mas no final um detalhe que me deixou meio nervosa com o autor.

Nos agradecimentos finais, bem lá no fim onde ninguém lê e nem presta atenção, o autor fala que tem uma filha. Pois é. Ele fica 200 e tantas páginas falando da relação com o filho e não menciona em nenhum momento a pobre da filha. Será que ela não dava problemas o suficiente para ser lembrada em algum momento?

Dia 8:
Quase sem sinal da bolota, um pouco menos irritada com o tal David Gilmour, que não tem nada a ver com aquele do Pink Floyd. Já posso comer quase de tudo, mas ainda não posso sair de casa.

Domingo já é um dia deprê, sem poder sair de casa então, pior ainda. Penso que no dia seguinte vou poder sair, finalmente vou tirar o pijama, vou acordar cedo pra ir trabalhar e logo sinto saudades da minha cama tão delicia e decido aproveitar os últimos minutos ao máximo.

2 comments:

Mr. Lemos said...

Tatusca, dois comentários curtos:
1) tô feliz por vc estar melhor;
2) ainda bem que vc não tem saco!!

saudades...

Anonymous said...

Que "judiação" vc ficou dodói, e com uma doença que só posso lhe dizer que enche o saco. E como o seu amigo acima disse, ainda bem que vc não tem saco. Agora, que tal vc voltar a ser aquela menina da fotinha do seu perfil? Vai ajudar o titio aqui a ficar feliz, porque éramos felizes, muito felizes, e acho que não sabíamos. Poxa Tati, fico feliz por vc. Depois que o seu maior Tietem o seu avô foi embora nunca mais soube nada sobre vc. Beijos, Titio bira. Saudades da sua infância, foi linda, sou testemunha. Seus pais merecem o elogio por isso.