Saturday, May 24, 2008

Monjolinho

Quando eu estava no primário era uma das únicas crianças da minha sala que sabia o que era um monjolo, ou um monjolinho.
Não que eu fosse uma criança prodígio, mas esse era o nome do sítio dos meus avós maternos.
Foi lá que passei toda a minha infância e um pouco da adolescência, bem pouco, porque fui uma adolescente chatinha que preferia passar as férias em São Paulo numa programação cultural de “adultos”.
Foi lá também que minha mãe passou a infância, a adolescência, casou e pretendia passa a velhice, mas não deu.
Meus pais casaram no sítio durante a grande greve dos jornalistas, em 1979. Por causa da greve ninguém estava de plantão e todos os convidados apareceram na festa, que durou o dia todo e o seguinte.
O sítio tinha duas piscinas e um campo de futebol enorme, bem propício para as grandes comemorações. E comemorações não faltavam. Tinha sempre um churrasco ou um aniversário. Por isso, é provável que 90% dos jornalistas que trabalharam nas redações paulistas nos anos 80 tenham ido alguma vez ao Monjolinho. Não só os jornalistas, mas os músicos amigos do “Clube do Choro” e os cinéfilos do “Cineclube do Bexiga”.
As nossas férias, minhas, dos meus dois irmãos e um pouco mais tarde da minha prima Vicky, eram sempre lá. Os netos ficavam com a vó Joana no mês de janeiro, um pouco de fevereiro e julho. Meu avô e meus pais vinham na sexta a noite.
Era nesta época do ano que a gente fazia um monte de bagunça, deixava a vó louca porque não queria sair da piscina ou queria voltar pra piscina logo depois do almoço. “Vocês vão ter uma congestão”, gritava a vó da janela da cozinha.
Outras frases da vó eram: “Brincadeira de mão é de vilão”, quando estávamos nos batendo por qualquer motivo, “Vamos acordar porque o dia está lindo e a piscina está limpinha”, quando, na maior parte das vezes, eu queria ficar dormindo até mais tarde e “Mocinha não pode ficar com as pernas roxas”, pra mim, um pouco antes de sugerir que fizéssemos um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro, meu favorito, ou que eu olhasse como ela fazia feijão, para eu aprender.
Não preciso dizer que nunca aprendi a fazer feijão direito, o bolo sim, mas esse não faço por causa de minha mania de regime.
Tenho muitas outras lembranças da época que passávamos as férias no sítio. Como era a mais velha, sempre queria organizar a brincadeira. Fazíamos traquinagens, andávamos de bicicleta, íamos passear no pasto, fazíamos peças de teatro, jornais impressos e jornais gravados, sempre muito engraçados, por causa das brigas que acabavam acontecendo.
Na época do carnaval tínhamos outras tarefas, pelo menos eu tinha. Como minha avó sempre saía na escola de samba da cidade, vestida de baiana, começou a arrastar as netas e os netos para sair junto.
A vó costurava bem e acabava ajudando a fazer algumas fantasias da ala. Não preciso dizer que às vezes sobrava para a neta mais velha, mas eu acabava bordando só o meu maiô, o que durava mais ou menos até o carnaval, hehehehe. Eram sacos e sacos de lantejoula, um rolo de fio de naylon, uma agulha e um travesseiro para esticar o maiô.
Com quase 18 tive minhas primeiras aulas de direção no campo de futebol do sítio. Minha mãe não agüentava, ficava nervosa e não tirava a mão de perto do freio de mão, por isso a tarefa de me ensinar a dirigir foi do vô. Ele era bem mais tranqüilo, talvez por não saber o perigo que corria, até o dia que derrubei um muro, meu segredo mais secreto até hoje.
Quando fiquei mais velha um pouco comecei a ir bem menos para os sítio. Já não via mais graça em ficar lá e preferia ir pra balada com as amigas aqui em São Paulo.
Mesmo não indo muito, o sítio do Monjolinho me trazia, e ainda me traz, muitas lembranças boas e quando soube que meu avô ia vender não posso negar que fiquei triste. Não tanto quanto a minha avó, minha mãe e minha tia, que tem mais de 40 anos de lembranças de lá.
No dia das mães fomos para Porto Feliz, perto de onde ficava o sítio. Eu estava indo pela primeira vez em mais ou menos 6 anos. Não posso negar que a cidade cresceu e mudou, mas muita coisa continua no mesmíssimo lugar. Algumas lojas, algumas casas, a padaria perto da praça da matriz, a sorveteria que íamos tomar sorvete de pistache e o supermercado, que apesar de ter mudado de nome continua bem parecido.

Acabei não contando o que é um monjolinho. Para quem não sabe o que é vai a definição do tio do Chico.

Monjolo:
■ substantivo masculino
- Regionalismo: Brasil. engenho rudimentar, acionado à água, us. para pilar milho e descascar café Etimologiavoc. quimb., prov. da designação do povo; a datação é para a acp. 'engenho rudimentar'

1 comment:

Anonymous said...

Tatuska, bela história!
Muro? essa é nova!
Tinha então um monjolinho no seu sítio?????? funcionava!!!!????
Não sei pq escreve tão pouco, pq é realmente uma bela contadora de histórias!!!!!!!!

Bjao
Bisc8