Monday, December 12, 2005

Entre rimas e redondilhas

Nunca fui muito de poesia. Nunca entendi muito bem as palavras difíceis. Nunca fui boa de rima. Nunca tive muita paciência. Nunca entendi esse negócio de redondilhas. Nunca me arrisquei a tentar escrever uma. Ok, talvez uma vez, com o coração apaixonado, tenha tentado fazer umas rimas imbecis como amor e dor, mas parei por ai.
A primeira poesia que decorei na vida foi “Vou-me embora para Pasárgada” do Manuel Bandeira, mas hoje só me lembro da primeira estrofe. Era aula de redação e a nossa professora da 6ª série (ou seria 7ª ?), resolveu que nós teríamos que decorar uma poesia, pelo menos uma na vida. E toca procurar alguma poesia bem fácil pra decorar em uma semana.
Como sempre decorei música fácil, fui atrás de algum cantor/poeta que pudesse me ajudar. Achei um livrinho meio velho com algumas poesias e músicas do Vinicius de Moraes. Dei uma folheada e achei o tal “Soneto da Fidelidade” (sim, o soneto mais batido do mundo), lembrava de ter ouvido em algum lugar, achei bonita aquela história de amor eterno enquanto durasse e decidi que era aquele mesmo que eu ia decorar.
Passei a semana decorando, mas pior que entender e fazer rima, é declamar poesia. No dia da apresentação estava lá eu, nada confiante, branco geral, declamando a poesia. Respirei errado, pausei errado, pontuei errado, entonei errado, enfim, declamei pior que se eu fosse gaga.
Depois do meu fiasco, fui seguida pelo meu amigo, e fiel companheiro, Negão, que sempre foi palhaço e incentivava as minhas palhaçadas. Como bom amigo, me salvou da vergonha geral, mandou o poema dos mafagafinhos e a classe inteira veio a baixo.
Passada a fase da escola e da gagueira para declamar poesias, parei com essa história de rimar e procurar palavras difíceis. Lembro de ouvir um professor declamar “O Corvo” do Edgar Allan Poe, mas não prestei muita atenção, a não ser pelos recorrentes “never more”, que os corvos insistiam em dizer.
Tava até esquecendo esse negócio de poesia, quando cai na minha vida a figura mais louca do mundo, Cássio Maradei.
Um dia achando que eu era inteligente e culta ele me dá uma poesia do T.S. Elliot pra ler. Em INGLÊS!!! Se nem os ingleses entendem Elliot em inglês, quem sou eu pra entender? Mas fiz o meu papel, li duas vezes, fiz cara de conteúdo e soltei um “Nossa que lindo!”.
Passou um tempo e ganhei aquele livro do Elliot de herança. Passou outro tempo e decidi dar uma lida nos poemas, principalmente em um que ele vivia citando, o “Ash Wednesday”. Que era mais ou menos assim "Because I do not hope to turn again Because I do not hope Because I do not hope to turn".
Li, reli, treli, quadreli e mesmo assim ainda acho que não entendi muito bem. Então, fechei o livro e me contentei em entender o “Old Possum's Book of Practical Cats”, uma coisa bem mais fácil que o Elliot escreveu para crianças e virou aquele musical, Cats.

Como esse Blog é cultura vai um poema do Elliot.


The Naming of Cats

The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn't just one of your holiday games
You may think at first I'm as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there's the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James, Such as Victor or Jonathan, or George or Bill Bailey -All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames: Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter - But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that's particular,
A name that's peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat, Such as Bombalurina, or else Jellylorum - Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there's still one name left over,
And that is the name that you never will guess
The name that no human research can discover - But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same: His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable Deep and inscrutable singular Name.

1 comment:

Anonymous said...

Once upon a midnight dreadry...
Esse é o poema que eu mais gosto. Poe é muuuito bom....

Mas a versão que eu mais gosto é a desse poema em português por Fernando Pessoa.

""É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,"